E porque há males que vêm por bem.
O Tio J. teve dois AITs, foi ao médico, fez medicação. O colesterol baixou e a carótida ficou menos entupida. No meio de tantos tios, há um tio que é médico e, desconfiado da rápida evolução referida pelo médico que acompanhava o Tio J., pediu um exame, para ver como estava de facto a dita veia. O exame permitiu ver todas as veias do tio J.. E foi assim que se descobriu o aneurisma no cérebro.
O tio J. é o tio pateta e disparatado, o tio das brincadeiras, o tio chato, o tio tudo. E como nós cá em casa gostamos de forma especial deste tio. Desde o dia em que soube, nas férias na Tocha, foram poucas as noites em que não sonhei com o tio a cair, inerte. Medo que aquela coisa rebentasse. Aquela coisa que qualquer um de nós pode ter e não saber. Aquela coisa que o tio J. tinha. Que poderia ter andado uma vida inteira com ele. Ou que, a qualquer momento, poderia rebentar. Segundo o médico, seria o mais provável, recebermos más notícias dentro de pouco tempo, pelo estado e aspeto da "bolha".
Hoje faz duas semanas que o tio foi operado. Dei a aula, que não foi aula, e fui para o Hospital da Luz. O tio J. já estava na UCI, ainda totó da anestesia, mas já com as patetices, disparates e brincadeiras que o caracterizam.
Hoje o tio foi ao hospital saber os resultados do exame que fez ontem, está tudo bem. Sem aneurisma.
Hoje o tio foi ao hospital saber os resultados do exame que fez ontem, está tudo bem. Sem aneurisma.
No dia da sardinhada na Tocha o tio dizia "43 anos neste carrossel que é a vida"...se a coisa corresse mal. Agora eu digo, foi a primeira coisa que lhe disse quando o vi...
...tio, pelo menos mais 43 anos neste carrossel que é a vida.