A noticia mais divulgada nas redes sociais ontem diz respeito à operação que a Angelina Jolie fez para prevenir o cancro da mama. Se já gostava dela como atriz, agora admiro-a pela coragem e pela imensidão do seu amor pelos filhos, que a levou a fazer uma mastectomia integral no sentido de proteger os filhos da dor que ela própria viveu, perder a mãe cedo por causa de cancro da mama.
Infelizmente sei o que é ter a mãe com cancro da mama, felizmente a minha mãe está entre nós e conseguiu lutar contra esta doença que é sempre inesperada e cujo final é sempre imprevisível. Pensamos sempre que só acontece aos outros.
Não temos historial de cancro na família da minha mãe. A minha mãe é a pessoa mais saudável que conheço. Sempre fez ginástica, alimenta-se maioritariamente de peixe, frutas e legumes, nunca fumou ou bebeu. Deita-se cedo e levanta-se cedo [supostamente dá saúde e faz crescer]. As nossas preocupações [cá em casa], sempre foram com os tios e tias que fumam imenso, bebem, tomam trinta mil cafés por dia e têm uma vida de stress. Foi um choque. Na altura uma amiga dos meus pais estava com cancro da mama e a minha mãe terá ficado alerta para esta problemática. Em dezembro, depois do banho, sentiu que tinha um caroço no peito, fez os exames, cancro da mama. Só contou à família em Janeiro, por causa do Natal. Imagino os dias de angustia e sofrimento, sozinha, para nos proteger. Ainda me lembro da passagem de ano. A minha irmã foi com o J. para a Serra da Estrela, eu e o A. ficámos em casa dos tios com a família. "A minha mãe está estranha. Deve estar a aperceber-se de que estamos a crescer e a sair de baixo das asas dela", dizia eu ao A. Era muito, mas muito pior. A amiga dos meus pais sentia o caroço no peito há mais de um ano. Não deu importância porque como tinha uma filha com necessidades especiais, andava muito com ela ao colo. Associou o caroço a esse esforço acrescido. A F. fez a operação, retirou o nódulo e teve apenas sessões de radioterapia. A minha mãe tinha tido uma consulta de rotina em setembro e estava tudo bem. Em dezembro foi-lhe diagnosticado um dos piores tipos de cancro da mama. Fez quimioterapia, a operação para retirar o nódulo e radioterapia.
Se vos contasse a história toda, parece sexto, sétimo sentido. Lembro-me como se fosse hoje. Entrei em casa naquele [primeiro] sábado de janeiro e perguntei logo o que se passava. Lembro-me da hesitação da minha mãe [que queria esperar pela minha irmã, que já sabia, para me contar], das primeiras palavras, "filha, a mãe está com um problema de saúde", nunca, nunca aquilo me passou pela cabeça. Berrei, chorei, indignei-me. Tudo, menos aquilo. Foi um período muito difícil, ainda mais porque estava em Lisboa. Só contei aos amigos mais próximos, para justificar a minha ausência. Até à operação e ao feedback, está controlado, nunca consegui falar com ninguém sobre o assunto, sobre a minha mãe tem cancro da mama. As pessoas falavam-me de situações, familiares que vivam situações semelhantes e eu nunca consegui falar abertamente sobre o assunto até saber que iria ficar tudo bem. É verdade, existe uma dificuldade associada a pronuncia da palavra cancro. Para mim existiu a dificuldade acrescida de dizer a minha mãe tem cancro da mama. Medo. Medo de ouvir alto e em bom som. Medo do final. Medo desta doença.
Tenho o maior orgulho na minha mãe e na minha família. Um dia, alguém na empresa lhe disse "a Dra deve ter muito amor e suporte da sua família, apesar do que esta a passar está sempre bem". O pensamento positivo e o amor são determinantes, nesta luta que é a luta pela vida, durante uma vida, porque a preocupação, o medo, esses nunca, mas nunca irão desaparecer. Por ela e por nós.